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Conteúdo indivíduo

Materiais de teor sexual podem invadir as telas do público infantojuvenil a qualquer momento.

Conteúdo indivíduo

Há algumas semanas foram divulgados os resultados da pesquisa deste ano da TIC Kids Online Brasil. A instituição, que se alinha ao referencial metodológico do projeto Global Kids Online, coordenado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), visa apontar o cenário digital que, hoje, é realidade na vida de crianças e adolescentes com idade entre 9 e 17 anos. Atualmente, os números mostram que 95% da população nesta faixa etária tem acesso à internet, o que representa 25 milhões de pessoas, sendo que o celular foi citado como o dispositivo de acesso para 97% delas. Curiosamente, 24% dos entrevistados revelaram que a conexão à internet começou ainda na primeira infância, ou seja, antes dos seis anos. Mas o que os olhos de indivíduos com tão pouca idade veem nas telas? As publicações relativas a formas de ter uma alimentação saudável foram o objetivo de 58% delas, 45% procuravam informações sobre exercícios ou como entrar em forma e 34% buscavam informações para lidar com o sofrimento emocional, saúde mental ou bem-estar. Outros 23% queriam informações ou acompanhar discussões sobre sexualidade. Vamos focar nesse último índice, o de conteúdos de teor sexual, os quais não têm um tutorial para garantir resguardo absoluto: 16% relataram que receberam mensagens de conteúdo sexual, 16% chegaram a visualizar publicações de apelo sexual postadas para outras pessoas verem, 9% receberam “sugestões” para enviar fotos ou vídeos conhecidos como “nudes” e 5% receberam pedidos para falar sobre sexo. É importante ressaltar que 17% dos usuários de 11 a 17 anos se sentiram incomodados depois de terem contato com mensagens de conteúdo sexual.

NA TERRA DO “HIPER”

Seja pela curiosidade que leva o público a permanecer no conteúdo, seja pela invasão das telas por alguns sem permissão, esse acesso prematuro ao assunto atinge um público ainda em desenvolvimento. Há muitas questões para reflexão e uma delas, levantada por Danilo Suassuna, doutor em psicologia e idealizador do Instituto Suassuna, é a da realidade desfigurada. “O que está na internet é exacerbado, como a alegria das pessoas, as fotos com filtro e até a questão sexual é exagerada. E a internet, muitas vezes, é hipersexualizada”, diz. Na questão do desenvolvimento da criança e do adolescente, o uso excessivo de internet e o consumo da realidade fantasiosa podem prejudicar a habilidade social e o relacionamento interpessoal deles. “Eles podem achar, por exemplo, que o sexo é fácil, que não é preciso existir a conquista, que não tem outros ‘temperos’ ou outras necessidades a não ser o sexo, o ato por si mesmo”, explica Suassuna. O pensamento errôneo de relacionamento também pode ser concebido por meio do contato precoce com conteúdos sexuais. “Em um comportamento futuro, podem-se criar expectativas irreais que levam à decepção e à dificuldade em manter relacionamentos íntimos porque existe uma visão muito romântica, como se as pessoas estivessem no filme A Bela e a Fera, em que a mulher espera que, a partir de um beijo, a fera se transforme em um príncipe, ou seja, que o ‘amor’ dela o transforme em uma pessoa diferente e gentil, enquanto se mantém em um relacionamento de dependência”, compara. Os riscos psicológicos também podem existir e gerar “ansiedade, depressão e uma autoimagem totalmente distorcida por se comparar com aqueles corpos que, porventura, possam ser vistos ali na internet. Tudo isso impacta diretamente a autoestima por uma pressão em atender padrões irreais de beleza e performance sexual, além de promover certa distorção sobre a visão da sexualidade”, observa o especialista.

A EXPOSIÇÃO E OS RISCOS

Outro ponto delicado que envolve o cenário inclui o risco da segurança. “A gente pode ter, nessas informações on-line, o aliciamento por pessoas que estão à espera – ou à espreita – de crianças desinformadas”, continua. O que também preocupa, obviamente, são as questões de identidade e de privacidade, já que o público pode não entender a gravidade de compartilhar as informações pessoais, sem contar que podem acontecer “encontros perigosos com estranhos”.

CUIDADOS

Em um mundo altamente conectado, é difícil pensar que exista uma redoma que impeça a informação de chegar a eles. Daí a necessidade de os pais e responsáveis preverem e demonstrarem atenção e cuidado. O especialista orienta que a questão sexual seja abordada “pelos pais e com os pais”, pois, se não houver essa informação em casa, as crianças podem buscá-la em outro lugar. “E geralmente se busca essa informação com pessoas que não são do mesmo credo, que não têm os mesmos conceitos familiares e existenciais. Para que não haja constrangimento de nenhuma das partes, o aconselhável é que se pergunte à criança ou ao adolescente o que ele quer saber: você não diz o que quiser, mas responde às perguntas deles. Esse é o ponto principal na educação sexual: ouvir quais são as dúvidas, porque daí se parte de onde o filho está e não de onde a gente acha que ele está”, diz Suassuna. É importante também que os responsáveis “sejam modelos de comportamento saudável” na internet e fora dela, para que a conversa seja conduzida de forma, no mínimo, coerente. Embora considere que a internet traga riscos, Suassuna não ignora que ela pode ser, também, um lugar de possibilidade. “Não podemos tratar a internet só como vilã da história. Precisamos explicar para as crianças e os adolescentes o processo de escolha, o que deve ou não ser feito, e entender que a internet se torna um risco quando elas não sabem o que vão buscar ali, porque na internet tem de tudo: coisas boas, médias e ruins”, adverte. O jeito, então, é nos mantermos atentos à realidade digital. “A internet é uma parte inevitável da vida moderna e temos que adotar estratégias emocionais que sigam diante dessa realidade. Não adianta proibir somente porque o dia em que o filho ou a filha for liberado, eles vão procurar por informações que não são de qualidade. Então, se nós sanarmos as dúvidas a partir das questões que eles apresentam e em família, talvez eles precisem cada vez menos da internet”, diz Suassuna.

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  • Redação